Era uma vez uma “Sociedade econômica”

Neste post, exploraremos o conceito de sociedade econômica e analisaremos como as políticas públicas e a organização do poder influenciam diretamente o desenvolvimento de uma nação, ao mesmo tempo em que são moldadas por ideologias. Discutiremos também como essas ideologias podem, por vezes, se tornar preocupantes e contraditórias, desafiando a tão sonhada democracia.

Conceito de Sociedade Econômica

Para compreender o conceito de sociedade econômica, é importante começar pela origem das palavras. ‘Sociedade’ deriva do Latim ‘socius’ que significa ‘companheiro’. Já ‘economia’ deriva do grego ‘oikonomía’, a junção de ‘oikos’ (‘casa’) e ‘nomos’ (‘administração’). No campo financeiro, o conceito de ‘sociedade’ e ‘econômica’  se conecta à ideia de cooperação para a geração de riqueza. A economia depende de interações sociais complexas em que indivíduos, empresas e governos desempenham papéis complementares para produzir, distribuir e consumir recursos.

Instituições financeiras exemplificam como a cooperação é essencial para uma sociedade econômica. Os bancos, por exemplo, conectam poupadores (que têm recursos excedentes – os chamados superavitários) a tomadores (que precisam de capital – os chamados deficitários). Essa conexão entre poupadores que produzem recursos financeiros excedentes, aos bancos que atuam como intermediários, transferindo recursos (distribuindo) dos poupadores para os tomadores, e dos tomadores que consomem o capital para financiar projetos, negócios ou uso pessoal. Fecha o ciclo de uma sociedade economicamente organizada. Anteriormente, a economia era uma atividade doméstica limitada ao uso eficiente dos recursos do lar ou de uma pequena comunidade. Mas o termo se expandiu e passou a abranger a produção, distribuição e consumação de bens e serviços em larga escala dentro das nações do mundo.

A compreensão do que constitui uma sociedade econômica nos ajuda a identificar as desigualdades que permeiam sua estrutura e a perceber como o propósito inicial de união e cooperação de um grupo pode se perder, dando lugar a dinâmicas sociais que acentuam disparidades significativas na distribuição de recursos. Essas desigualdades são moldadas e influenciadas por políticas públicas, pelo regime de poder em vigor e pelos valores culturais que orientam decisões de consumo e investimento. Enxergar a sociedade sob a perspectiva econômica não se limita a analisar a movimentação de recursos, mas abrange também a forma como as relações humanas sustentam ou desafiam a criação de uma administração econômica mais justa e sustentável para todos.

A duras penas

“O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral.” – Karl Marx

“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse.” – Adam Smith

“A divisão do trabalho não apenas é uma necessidade econômica, mas também uma fonte de integração social.” – Émile Durkheim

A maior parte do mundo vive em uma sociedade econômica, isso nos indica que as relações econômicas estão no cerne do corpo social, ou seja, no núcleo do conjunto humano que formamos. A forma como produzimos, distribuímos e consumimos bens e serviços representa, dentro de um país, o papel fundamental da economia, que por sua vez, é afetada pela maneira como lidamos e moldamos as relações sociais, culturais e políticas da pátria, “pátria que nos pariu” evidenciava Gabriel O Pensador.

Compreender as influências econômicas na narração social é sobre dar-se conta da disparidade socieconômica, ou seja, a concentração de riqueza nas mãos de apenas uma pequena parcela da população. E nas nossas relações culturais que andam de acordo com o perfil de consumo, manisfesto pelas nossas tradições e preferências culturais. E sem dúvidas, compreender as influências econômicas nas políticas públicas e na forma como o Estado é organizado é ir de encontro a ideologias, é esbarrar na “forma” política que um país se exerga e se posiciona diante do mundo por meio de quem está no poder.

Citei três frases de três personagens Karl Marx, Adam Smith e Émile Durkheim pensadores que apesar de transcenderem classificações tão simplistas como “esquerdista”, “direitista” ou “centrista”, suas ideias são associadas a cada um desses tipos de inclinação ideológica, fielmente debatidas em todos os hemisférios da Terra. São mais rótulos para nos separar da sociedade. Já dizia nosso crítico compositor Cazuza “Ideologia, eu quero uma para viver!”.

Certeza para que te quero?

Todos esses grupos ideológicos são empoderados da certeza tão estúpida de ter certeza! O grande filósofo René Descartes já sabia que o benefício de duvidar é capaz de nos levar a uma compreensão mais sólida e fundamental de “certezas absolutas”. O regime de poder predominante como o comunismo, socialismo, capitalismo, ou qualquer outro. Cada um possui uma abordagem distinta que vai impactar o sistema econômico de um país, pois dita diretamente as políticas de uma nação e a forma como os recursos serão distribuídos. Mas independente do regime, qualquer dessas formas de organização social de um país possui a economia como aspecto central de suas estruturas e dinâmicas. O que muda é apenas a maneira como ela é organizada, gerida e integrada a sociedade.

O ciclo lógico dessa explicação é que um país organizado socialmente é denominado como uma sociedade econômica. Essa administração é influenciada por regimes de poder diretamente ligados a classificações ideológicas de “direita” e “esquerda”, os quais, por sua vez, moldam a as relações sociais, culturais e políticas de uma nação.

“A gente é saco de pancadaHá muito tempo e aceitaPorrada da esquerdaPorrada da direita

É tudo flagranteNovas e velhas notíciasMentiras verdadeirasVerdades fictícias (…)

Chega!Vida de gado, resignadoChega!Vida de escravo, de condenado

A corda no pescoçoDo patrão e do empregadoQuem trabalha honestamente

Tá sempre sendo roubado (…)
Chega!Obras de milhões de reaisE milhões de pacientesSem lugar nos hospitais
Chega!Falta comida, sobra pimentaChega!Repressão que não me representa
Chega!Porrada pra quem ama esse paísE bilhões desviadoDebaixo do meu nariz
Chega!Contas, taxas, impostos, cobrançasChega!Tudo aumenta, menos a esperança
Multas e pedágiosPara o cidadão normalE perdão para empresasQue cometem crime ambiental (…)
Eu pago por tudo isso
Imposto sobre serviço
A taxa sobre produto
Eu pago no meu tributo (…)
Paguei ontem
Pago hoje
E amanhã vou pagar
Me respeita!
Eu sou o dono desse lugar(…)” – Chega by Gabriel o Pensador

Surge os termos ‘Direita’ e ‘Esquerda’

Na Revolução Francesas de 1989 o rei Luiz XVI reuniu os Estados Gerais (nobreza, Clero e do povo) para discutir a grande crise financeira da França. Durante as deliberações, o ponto auge foi um impasse sobre se o Rei poderia vetar uma lei votada pela Assembléia. Uma parte dos deputados se posicionou à direita, defendendo mais poderes para o rei, enquanto outra parte se colocou à esquerda, buscando limitar seus poderes, ou até mesmo abolir a monarquia. Foi aí que as expressões ‘direita’ e ‘esquerda’ nasceram, fruto de uma simples questão de posicionamento físico na Assembleia dessa época. Vele ressaltar que os próprios esquerdistas da época mataram outros esquerdistas apenas por discordâncias sobre o grau de ‘esquerdismo’ – um reflexo de como as ideologias podem ser interpretadas de formas diversas e, por vezes, extremas. Precisamos questionar essas categorias rígidas e refletir sobre como elas limitam nossa capacidade de compreender e resolver as verdadeiras questões políticas e sociais. O desafio sempre esteve em irmos além dos rótulos e buscarmos uma política mais inclusiva, que aceite e compreenda as diferentes perspectivas que compõem o tecido de uma sociedade.

Democracia, eu sou dono desse lugar

Encerro com uma provocação pertinente: a democracia deveria ser acima de qualquer ideologia? Para mim, deveria ser o verdadeiro espaço de coexistência de interesses e perspectivas contraditórias, o que se torna um contraponto direto ao facismo que tenta impor um pensamento único e homogêneo – algo tão inatigível quanto indesejável. Quando lidamos com limitações como ‘Direita’ ou ‘Esquerda’ em suas formas extremistas, nos deparamos com ideologias que querem enquadrar tudo dentro da sua própria “caixinha”, dessa forma somos levados a ignorar a diversidade de pensamentos e a necessidade do povo como um todo. A democracia deveria ser uma zona livre que permite o diálogo e o conflito saudável entre ideias, reconhecendo a pluralidade como força e não como ameaça. 

Por vezes, esquecemos ou deixamos de investigar as origens desses termos (‘direita’ e ‘esquerda’) divisores de nações inteiras. Não levamos em conta o tempo, o local e o contexto político de quem diz “eu sou de esquerda”. Mas você está em Cuba ou na França? E entenderemos melhor com qual ‘esquerda’ estamos lidando. Porque até os que “possuem a mesma ideologia” não possuem a mesma ideologia. Dessa divisão tonta só podia mesmo resultar na Torre de Babel.

Aqui deixo uma leitura extremamente válida que abre espaço para debates infinitos, Austeridade: a História de uma Ideia Perigosa de Mark Blyth.

Acompanhe o próximo assunto: O carro chefe da economia.

Eu estou sempre em construção e você?

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